Por Valdez Gomes
Leto, assim sou conhecido no mundo da bola.
Esse mesmo mundo que girei e andei por esses longos anos de carreira.
Talvez não fosse preiso andar tanto para aprender essa dolorosa
lição.
Imaginava já saber e ter vivido tudo.
Como fui bobo...
Importância dei para muita coisa irrelevante, como perdi tempo...
Agora sei exatamente a dor da
torção causada por um passo em falso.
Minha história começa no Largo do Estácio, mais precisamente nas ladeiras do
Morro de São Carlos, na rua Laurindo Rabelo. Terra fértil, de lá saíram craques
do quilate de Gonzaguinha, Luiz Melodia e Ismael Silva. Não tive o prazer de
esbarrar com nenhum deles, mas falo como se fossem da minha família.
Nessa época não havia tanta oferta de campos pelas redondezas, a pelada
rolava no meio da rua de paralelepípedos e era cortada pelo esgoto a céu aberto
que as casas despejavam. Jogávamos pelada na ladeira! Pode isso, Arnaldo?!
Minha carreira é cigana, joguei por mais clubes do que gostaria, quase
nenhum deles me deixou saudades. Até que um dia no alto dos meus 34anos, duas
cirurgias no joelho e alguns gols marcados, minha estrela brilhou e assinei um
contrato de risco com um belo clube da minha cidade. As cláusulas do contrato,
inclusive, fui eu quem exigiu. Exclusividade, Direto de Imagem, Produtividade,
essas coisas que todo profissional deve seguir.
Os primeiros meses de contrato foram maravilhosos, ao menos do meu ponto de
vista. O clube acenava com possibilidade de renovação e extensão de vinculo. As
perspectivas eram boas, dentro em breve seria de fato jogador do clube.
Logo surgiram sondagens, cantadas, especulações com meu nome envolvido. Até
chegar em minhas mãos uma proposta tentadora. Maldita hora em que dei ouvidos
ao canto da sereia! Estava tudo ali, ao meu alcance.
Ainda com contrato em vigor, assinei um pré-contrato com outra agremiação.
Não demorou a informação vazou para a imprensa. Logo torcedores e dirigentes me
puseram contra a parede. Não havia defesa; eu os traíra.
Antes mesmo de assinar o destrato ou vestir nova camisa, meu mundo já havia
caído e com ele veio ao chão minha máscara. Como pude?!
Não peço que aceitem meu pedido de desculpas ou me perdoem por tamanha
desfaçatez. Quero, se possível, que acreditem no pesado sentimento de culpa que
carrego hoje. Há 20 dias tomei essa atitude impensada e há 2anos me arrependo
dela.
Não preciso que me julguem; imprensa, torcida, dirigente ou amigos. Meu mais
duro Julgamento é da mais justa e severa jurista, minha Consciência. Minha pena
vou cumprir sozinho, acompanhado na cela solitária dos errantes.
Eu sou Leto, ex-Jogador e agora torcedor do Clube Atlético Nova América e
essa é a minha história.
30 de novembro de 2015
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